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Edição atual tal como às 10h57min de 10 de agosto de 2016
Índice
- 1 Introdução
- 2 Neoliberalismo: A nova razão do mundo?
- 3 O Urbanismo neoliberal na Espanha e por toda parte
- 4 Uma questão de Arquitetura: compondo as multicapas da cidade neoliberal
- 5 A produção do comum e as biopotências urbanas
- 6 15M e agora?
- 7 Conclusão
- 8 Referências
- 9 ANEXOS
Introdução
Neoliberalismo: A nova razão do mundo?
O Urbanismo neoliberal na Espanha e por toda parte
O tsunami neoliberal
Crise e dívida: a bolha explode
Grandes projetos urbanos, rentização e abstração espacial/ A cidade privatizada e os serviços terceirizado
Os riscos são do Estado. Os lucros, do mercado
Uma questão de Arquitetura: compondo as multicapas da cidade neoliberal
Arquitetura Espetacular
Arquitetura Yuppie
A (in)coerência do Diagrama como processo de projeto mais ético de projeto
Urbanismo hipster é neoliberal
Coletivos de Arquitetura: precariedade e ética hacker?
A produção do comum e as biopotências urbanas
Multidão: uma nova ontologia e um novo sujeito político
O comum
Anarquismo, Centros sociais e okupas de primeira geração
Occupando o espaço público: a multidão contro o Estado-capital?
(de 1988 em Berlim 88, Seatle 99, Primavera Árabe, 15M, Occupies NY e outros, Parque Gezi, Gamonal)
Okupas de segunda geração ou Centros Sociais de Segunda geração
(Casa Invisible – Málaga, Casa Pátio Pumarejo, Huerto del Rey Moro, Tabacalera e Pátio Maravillas - Madrid)
15M e agora?
15M: origens e desdobramentos
Fundacion de Los Comunes
Partido X
Podemos
Plataformas Municipalistas (6 capitais de Comunidades Autônomas)
Ahora Madrid
Barcelona en Comú e o Novo Municipalismo
Transversalidades entre o Estado-capital e os commons: pensando as novas instituições
Arquitetura, Urbanismo e Municipalismo
Conclusão
Referências
ANEXOS
Novo municipalismo espanhol Coletivos iberoamericanos
Fanpage: https://www.facebook.com/docposdoc/?fref=ts
Blog: http://docposdoc.indisciplinar.com
Projeto enviado ao CNPq
Rastreando o Urbanismo Neoliberal e Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano na Espanha
RESUMO
Este plano de trabalho para estágio pós-doutoral no exterior pretende realizar uma pesquisa sobre a produção do espaço urbano contemporâneo na Espanha compreendendo três Eixos de investigação: Eixo 01, Rastreando o Urbanismo Neoliberal; Eixo 02, Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano; Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático. No Eixo 01, tem-se uma hipótese a ser comprovada (através de um rastreamento bibliográfico, de dados e com entrevistas a especialistas) de que a arquitetura e o urbanismo neoliberais foram dispositivos importantes para o avanço do neoliberalismo na Espanha através da construção de grandes obras de infraestrutura e de projetos de parcerias público-privadas garantindo o avanço do mercado imobiliário em parceria com bancos e Estado, causando um grande cenário de endividamento no país. No Eixo 02, Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano, objetiva-se a realização de uma cartografia da produção tecnopolítica do comum urbano constituída de processos multitudinários por toda a Espanha e que teve parte de sua origem na cidade de Sevilha (na qual pretende-se morar e realizar este trabalho) através de ações que envolvem o arquiteto e urbanista Santiago Cirugeda e seu coletivo Recetas Urbanas. Portanto, pretende-se, dentro desse eixo de investigação, realizar uma cartografia que contenha uma grande rede de inteligências coletivas de produção de espaços envolvendo processos de produção do comum urbano. Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático, pretende-se desenvolver a construção de um protótipo tecnopolítico de urbanismo tático (hardware e software) para instalação em espaços públicos que possam concentrar informações tanto sobre processos destituintes do urbanismo neoliberal quanto sobre processos constituintes envolvendo urbanismo tático e novas políticas do comum. Este trabalho será realizado no FabLab Sevilha, local no qual a pesquisa será inteiramente realizada.
PALAVRAS-CHAVE: urbanismo; neoliberalismo; comum; tecnopolítica.
1. INTRODUÇÃO
Este plano de trabalho para estágio pós-doutoral no exterior pretende realizar uma pesquisa sobre a produção do espaço urbano contemporâneo na Espanha compreendendo três Eixos de investigação: Eixo 01, Rastreando o Urbanismo Neoliberal; Eixo 02, Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano; Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático. No Eixo 01, tem-se uma hipótese a ser comprovada: a arquitetura e o urbanismo foram dispositivos importantes para o avanço do neoliberalismo na Espanha através da construção de grandes obras de infraestrutura, de projetos de parcerias público-privadas que trouxeram equipamentos culturais como a ponta da gentrificação de áreas estratégicas para o avanço do mercado imobiliário e, também, através do incentivo radical à aquisição da casa própria, causando um grande e profundo cenário de endividamento tanto do Estado quanto dos cidadãos. Para isso, utilizaremos uma vasta coleta de dados que serão sintetizados em diagramas, tabelas e infográficos. As informações coletadas também através de entrevistas e textos científicos (baseados em dados econômicos e sociais de institutos oficiais espanhóis) auxiliarão na demonstração de que esse percurso de avanço do Estado-capital sobre o território teve início nos anos 1980, com seu auge nos anos 1990, adotando uma lógica de expansão da urbanização na qual construir grandes obras de infraestrutura e ampliar as regiões metropolitanas, via projetos de parceria público-privada, eram fundamentais para o capitalismo rentista envolvendo bancos e empreiteiras. Para o Brasil, é importante demonstrar, tendo a Espanha como exemplo, como a conexão de grandes projetos urbanísticos e arquitetônicos se relacionam diretamente com o endividamento de um país, tanto do Estado quanto dos cidadãos, que são levados biopoliticamente a participar desse sistema neoliberal de produção do espaço. Esse eixo de investigação incluirá uma revisão bibliográfica englobando o surgimento do neoliberalismo (de maneira geral) ao final dos anos 1970 e início dos 1980, assim como sua expansão para o território metropolitano. Autores como David Harvey, Neil Smith, Michael Hardt, Antonio Negri e Maurizio Lazzarato serão de extrema importância na constituição de um arcabouço teórico que denominamos urbanismo neoliberal e sua consequente produção social e ontológica de espaço em tempos de capitalismo imaterial (ou pós-fordista). Acredita-se que esse processo de neoliberalização do urbanismo faz parte de uma lógica global de expansão capitalista que nos últimos anos chegou ao Brasil e ainda está em seu estágio inicial. O que justifica fortemente este trabalho é a importância de se realizar uma pesquisa que demonstre como esses processos de urbanização foram destrutivos para a economia da Espanha, assim como para o bem-estar social do cidadão, e não deve se repetir no Brasil, apesar de já iniciado. No Eixo 02, Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano, objetiva-se a realização de uma cartografia da produção tecnopolítica do comum urbano constituída de processos multitudinários por toda a Espanha e que teve parte de sua origem na cidade de Sevilha (na qual pretende-se morar e realizar este trabalho) através de ações que envolvem o arquiteto e urbanista Santiago Cirugeda e seu coletivo Recetas Urbanas. Portanto, pretende-se, dentro desse eixo de investigação, realizar uma cartografia que contenha uma grande rede de inteligências coletivas de produção de espaços envolvendo processos de produção do comum urbano. Essa cartografia abarcará coletivos de arquitetura e urbanismo táticos que utilizem dispositivos diversos: tanto de artesanias construtivas quanto de tecnopolíticas digitais para constituição de espaços urbanos de uso coletivo baseados na lógica do urbanismo p2p (entre pares) e open source. Observa-se que já existe uma multiplicidade de grupos cidadãos que vêm constituindo um novo modo de fazer cidade através de processos colaborativos, horizontais, autônomos e autogestionários, ocupando espaços públicos (do Estado) e tornando-os espaços de produção do comum (nem do Estado, nem do mercado) em toda a Espanha. Essa cartografia de coletivos de arquitetura e urbanismo dar-se-ia através de entrevistas sistematizadas, rodas de conversa, levantamento de dados sobre os grupos, mapeamento georreferenciado de suas ações em toda Ibero-América. Alguns coletivos de arquitetura, arte e urbanismo que devem ser cartografados, já fazem parte da rede de ações do grupo de pesquisa Indisciplinar coordenado por esta pesquisadora, são eles: Todo Por La Praxis, UrbanoHumano, Basurama, Hacktectura, Hipo Tesis dentre outros espaços de investigação nesta área, como o projeto de Pablo de Soto Mapeando o Comum, o espaço de investigação MediaLab em Madri e o LabFab de Sevilla coordenado pelo tutor desse estágio pós-doutoral José Pérez de Lama. Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático, pretende-se desenvolver a construção de um protótipo tecnopolítico de urbanismo tático (hardware e software) para instalação em espaços públicos próximos às escolas de arquitetura e urbanismo que possam concentrar informações tanto sobre processos destituintes do urbanismo neoliberal quanto sobre processos constituintes envolvendo urbanismo tático e novas políticas do comum. Este trabalho será realizado no FabLab Sevilha, local no qual a pesquisa será inteiramente realizada. Como resultado final do estágio pós-doutoral, espera-se produzir um esboço de um livro para publicação no Brasil.
2. APRESENTAÇÃO GERAL, MOTIVAÇÃO ACADÊMICA E JUSTIFICATIVAS PARA REALIZAÇÃO DESTE ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL NA ESPANHA A realização deste estágio pós-doutoral justifica-se por ser mais uma das ações para qualificar o debate sobre a produção de espaço nas metrópoles contemporâneas. A proposta aqui é que este plano de trabalho contenha o desenvolvimento de um conjunto de ações que possam potencializar diversas discussões nacionais e locais envolvendo tanto o tema do urbanismo neoliberal, quanto a produção do comum urbano enquanto resistência primeira e positiva aos processos de expropriação do comum presentes na lógica neoliberal de produção do espaço. Portanto, esta pesquisa pretende somar-se a um conjunto de ações realizadas pelo grupo de pesquisa Indisciplinar (que esta pesquisadora coordena na Escola de Arquitetura da UFMG - http://blog.indisciplinar.com) envolvendo a produção de monografias, dissertações, teses, projetos de pesquisa e de extensão, eventos, além de incentivar e consolidar redes entre arquitetos, urbanistas, ativistas e movimentos sociais, sempre no intuito de qualificar e expandir o debate sobre urbanismo e política nas metrópoles contemporâneas. O grupo já possui várias frentes de atuação em envolvendo produção teórica e prática no que diz respeito à constituição de um conjunto de críticas destituintes do urbanismo neoliberal, amplamente disseminado em todo o mundo, mas também, produz um conjunto de propostas conceituais e práticas que apostam em novos modos de pensar a cidade e constituir novas diretrizes para geração de políticas públicas. Alguns projetos envolvendo ensino, pesquisa e extensão coordenados por esta pesquisadora que estão sendo desenvolvidos neste momento são: A. MAPEANDO O COMUM: CARTOGRAFANDO A CULTURA MULTITUDINÁRIA: Este projeto surgiu tanto a partir da participação no projeto do pesquisador espanhol Pablo de Soto denominado “Mapeando o comum” (do qual faz parte também o supervisor deste estágio pós-doutoral José Perez de Lama, ver site http://mappingthecommons.net/pt/mondo/ ), quanto a partir da pesquisa "Cartografias Emergentes: a distribuição territorial da produção cultural em Belo Horizonte", viabilizada pela Chamada N.º 80/2013 CNPq/SEC/MinC e desenvolvida em 2014 ; B. COMPARTILHAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO COMUM: Este projeto desenvolve tecnopolíticas para compartilhamento e distribuição de informações do sistema urbano utilizando tecnologias de informação e comunicação (TICs), especialmente a tecnologia móvel, tendo a dimensão fundamental o comum. Este projeto vem implementando, juntamente com diversos parceiros, processos formativos que possam politizar a informação fomentando processos de agenciamento autônomos que emergem em práticas cotidianas, nos movimentos sociais e nas lutas pelo direito à cidade com objetivos de difundir práticas culturais de tecnopolíticas e urbanismo entre pares e criar (experimentar e aplicar) processos que democratizem e sensibilizem a informação e a construção de redes colaborativas. Em processo constante de retroalimentação (feedback), a informação é coletada, distribuída e retorna alimentando novos processos de ideias e ações coletivas seja via blogs, sites, fanpages, grupos de discussão, plataformas wikis, mapas georreferenciados (crowdmap e mapa de vistas). As duas frentes de ações mais importantes que são desenvolvidas atualmente vinculadas a este projeto são: 1. Natureza Urbana: conectando movimentos sociais e associações comunitárias locais em torno da defesa das áreas verdes na RMBH e o compartilhamento público destas áreas com a população que acabou por gerar a construção de uma Rede Verde (https://www.facebook.com/pages/RedeVerde/1536646969929195?ref=br_rs) ; 2. Lutas Territoriais: criando uma topologia das lutas a partir das redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter) cruzadas com o mapeamento das mesmas lutas na plataforma crowdmap identificando e caracterizando os seus território; auxiliando na constituição tecnopolítica das lutas locais como é o caso da nova frente articulada de movimentos sociais e universidades envolvendo as ocupações urbanas da RMBH tanto em debates jurídicos para mesa de negociação com o Estado, quanto na produção de plataforma de comunicação em rede e que se torna agora uma rede Território Comum (https://www.facebook.com/pages/Rede-Território-COMUM/294486297388458?fref=ts). C. ARTESANIAS DO COMUM é um projeto que valoriza a produção tecnopolítica via desenvolvimento de design utilizando a lógica do urbanismo tático. É na verdade um projeto com intenção de incentivo de produção coletiva e colaborativa de dispositivos urbanos que possam fomentar o uso livre do espaço e a construção de redes para constituição de urbanismo entre pares (p2p). O Ind.Lab – laboratório nômade do comum, ao qual este projeto Artesanias do Comum está associado, é tanto um espaço físico como uma rede de projetos distribuídos pela cidade em parceria com movimentos sociais como as Brigadas Populares e o Espaço Comum Luiz Estrela, que possui atualmente uma oficina de artesanias completa contendo marcenaria, tecelagem, costura e estamparia. Faz parte do grupo de objetivos também a disseminação da prática artesanal enquanto produção de objetos e ações que envolvam a lógica do copyleft, a produção colaborativa de autoria coletiva que possa ser re-aplicada por outros grupos dentro do que chamamos de tecnologia social, ou seja, produzindo saberes horizontalmente entre universidade e sociedade, o que segundo Lassance e Pedreira (2004: 66), poderia ser denominado enquanto tecnologias sociais reaplicáveis que podem ser definidas como um “conjunto de técnicas e procedimentos, associados às formas de organização coletiva, que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida.” Paralelamente à construção destas múltiplas frentes de trabalho, no último ano, para darmos um salto de organização da produção do grupo nacional (e internacional) que vinha se constituindo aos poucos, decidimos criar a rede “TECNOPOLÍTICAS: Territórios Urbanos e Redes Digitais ” voltada a investigar a aplicação das tecnologias digitais de comunicação aos processos de produção do espaço urbano. A ideia tem sido produzir e sistematizar conhecimento e explorar tecnologias que promovam a interseção entre as redes digitais e as dinâmicas espaciais urbanas. Compreende-se que estas tecnologias conformam, atualmente, parte indissociável da experiência e da organização das metrópoles contemporâneas, promovendo a fusão da sua dimensão físico-territorial com a das redes digitais. Partindo de um contexto de urbanização crescente, que alcança até mesmo os recônditos rurais e selvagens, a expansão da tecnologia informacional e das condições de conectividade vem transformando a vivência destes territórios e se integrando às suas infraestruturas com intensidade sem precedentes. No entanto, não se observa uma incorporação correspondente desses mesmos recursos nos instrumentos de planejamento das cidades, sobretudo no que concerne ao fortalecimento do diálogo entre os seus habitantes e o poder público. Portanto, foram inauguradas uma série de atividades coletivas no sentido de investigar/produzir tecnologia social aplicada a políticas públicas urbanas nos mais diversos níveis: mobilidade, moradia, lazer, cultura, economia, agroecologia, etc. Propõe-se então que esta rede reforce o desenvolvimento colaborativo de tecnologia social aberta e reaplicável, baseando-se em iniciativas como o movimento open source (software livre) ou peer to peer (p2p, entre pares) que promovem o livre compartilhamento de conhecimento a partir de novos modelos de licenciamento de conteúdo. Acredita-se que a ampla disseminação da informação produzida pelo é premissa fundamental para sua contribuição efetiva às práticas de desenvolvimento urbano sustentável no país. Acredita-se que é urgente aliar o que há de mais avançado na investigação em tecnologia da informação à pesquisa urbana em sua dimensão multidisciplinar – reunindo arquitetos, urbanistas, geógrafos, economistas, sociólogos, designers, biólogos etc. – em busca da criação de dispositivos tecnopolíticos para a atuação nas metrópoles e é neste sentido que toda esta pesquisa apresentada aqui para o estágio pós-doutoral deve caminhar.
A importância da tecnopolítica envolvendo o tema da metrópole e da ampliação da rede cruzando universidades e sociedade Relembrando que muitos movimentos insurgentes populares que ganharam visibilidade a partir de junho de 2013 no Brasil, atualmente articularam-se prioritariamente em torno de pautas urbanas sinalizando grande insatisfação com os mecanismos de participação e de representação disponíveis para abordar tais questões. A partir daí, começa a estruturação tanto do grupo de pesquisa Indisciplinar, quanto desta rede de tecnopolíticas apresentada anteriormente, reunindo pesquisadores e ativistas imbuídos de pensar propostas para uma sociedade mais plural e democrática, que associa núcleos de pesquisa e extensão das universidades a coletivos artísticos ou midialivristas e a movimentos sociais diversos. Este estágio pós-doutoral, participa deste processo de ampliação do debate tecnopolítico sobre as resistências urbanas aos processos neoliberalizantes e pretende amplia-la junto a diversos grupos de arquitetos, urbanistas, pesquisadores e ativistas, envolvendo coletivos de arquitetura ibero-americanos dentre outros. Seria bom ressaltar que o grupo Redes, Movimientos e Tecnopolítica espanhol que faz parte do IN3, coordenado por Castells e que conta com a participação do parceiro de pesquisa Javier Toret (http://tecnopolitica.net) será um grande aliado nesta investigação aqui proposta. Oberva-se também que, a partir dessa produção tecnopolítica, pretende-se auxiliar não somente as comunidades e os grupos organizados da sociedade civil, mas também o Estado, na constituição de plataformas colaborativas que dêem suporte a processos de participação mais eficazes. Iniciativas como o Marco Civil da internet demonstram que o Brasil está na vanguarda das políticas públicas para as redes digitais, revelando uma necessidade de se formar grupos de investigação de excelência na área das tecnopolíticas e de ampliar seu alcance para a esfera do planejamento urbano envolvendo universidades, Estado e sociedade. Nesse sentido, identifica-se grande potencial nas iniciativas identificadas como urbanismo entre pares, arquitetura open source, cidade copyleft, ou wikitetura, dentre outros muitos grupos e coletivos que atuam neste sentido na Espanha. Baseadas na cultura de software aberto e do conhecimento livre, essas propostas tomam emprestado o vocabulário próprio ao universo informacional para aplicá-lo à produção colaborativa do espaço urbano. Marta Battistella (2013) reflete sobre o contraste entre o potencial globalizante e aparentemente desterritorializante da revolução informacional, e o caráter predominantemente local dessas plataformas digitais sociais, que almejam incentivar encontros e intervenções urbanas. A autora argumenta que, apesar desse avanço tecnológico apontar uma aparente tendência ao distanciamento do universo físico e da convivência face a face, torna-se possível presenciar o surgimento de uma série de iniciativas conectadas em rede que propõem, justamente, o resgate da experiência local do espaço. Porfim, acredita-se que ampliando esta rede e aprofundando a colaboração entre grupos e pesquisadores num contexto de debate tecnopolítico, esta proposta de estágio doutoral oferece um trabalho tanto de fôlego acadêmico quanto de pesquisa aprofundada sobre estes processos que estão em fase de constituição avançada na Espanha. Mesmo compreendendo que as realidades dos dois países (Brasil, Espanha) são totalmente diferentes e que as condições históricas, econômicas e sociais sejam díspares e singulares, acredita-se que há um processo global de neoliberalização que atua em todos os territórios do planeta, em alguns mais do que em outros, mas de alguma maneira, procedimentos e lógicas se repetem. Assim como se repetem também os discursos e as narrativas em campos distintos, como é o caso da Arquitetura e do Urbanismo oficiais e atrelados ao estado-mercado que vem ampliando o marketing sobre a importância de se pensar as cidades como empresas e as políticas urbanas a partir de modelos de negócios via Parcerias Público-Privadas. Neste sentido, temos a Espanha contendo um leque enorme de referências negativas e nocivas ao bem-estar-social, já que o país entrou em crise exatamente por seu alto nível de endividamento. Compreender o que se passa na Europa e dar visibilidade a estes processos neoliberais e às suas consequências em toda a sociedade faz parte dos objetivos e da justificativa desta proposta. Assim como, dar visibilidade a processos de resistência positiva que acontecem na Espanha por toda parte, também faz parte da estratégia deste investigação.
Apresentação dos eixos de investigação, hipóteses, apostas e justificativas específicas para cada um dos EIXOS de investigação Esta pesquisa portanto, pretende tratar da produção do espaço urbano na Espanha compreendendo três eixos de investigação: Eixo 01, Urbanismo Neoliberal e Eixo 02; Produção Tecnopolítica do Comum Urbano; Eixo 03, Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático. No Eixo 01, Urbanismo Neoliberal, tem-se uma hipótese a ser comprovada: a arquitetura e o urbanismo neoliberais foram dispositivos importantes para o avanço do neoliberalismo na Espanha através da construção de grandes obras de infraestrutura, de projetos de parcerias público-privadas que trouxeram equipamentos culturais como a ponta da gentrificação de áreas estratégicas para o avanço do mercado imobiliário e também, através do incentivo radical à aquisição da casa própria, causando um vasto e profundo cenário de endividamento tanto do Estado quanto dos cidadãos. Portanto, no Eixo 01 deste estágio pós-doutoral, pretende-se comprovar a hipótese de que os processos de urbanização neoliberal colaboraram para a derrocada econômica-social da Espanha e assim objetiva-se rastrear o avanço do capitalismo contemporâneo (flexível e rentista, que associa bancos, empreiteiras e Estado). Para isto utilizaremos uma vasta coleta de dados que serão sintetizados em diagramas, tabelas e infográficos. As informações coletadas também através de entrevistas e textos científicos (baseados em dados econômicos e sociais de institutos oficiais espanhóis) auxiliarão na demonstração de que este percurso de avanço do Estado-capital sobre o território teve início nos anos 80 e teve seu auge nos anos 90, adotando uma lógica de expansão do urbanismo neoliberal na qual construir grandes obras de infraestrutura e ampliar as regiões metropolitanas incluindo cidades no hanking competitivo entre elas utilizando arquitetura espetacular como foi o caso paradigmático da franchising cultural que foi a construção do Museu Guggenheim em Bilbao via projetos de parceria público-privada. É de grande importância para compreensão do avanço do capital rentista no Brasil antecipar uma discussão mais profunda demonstrando como o processo de endividamento está diretamente relacionado ao processo de expansão das ações do Estado-nação sobre o território. Para o Brasil é importante demonstrar, tendo a Espanha como exemplo, como a conexão de grandes projetos urbanísticos e arquitetônicos se relacionam diretamente com o endividamento de um país, tanto do Estado quanto dos cidadãos que são levados biopoliticamente a participar deste sistema neoliberal de produção do espaço. Acredita-se que grande parte da crise na Espanha advém deste processo de privatização e endividamento via PPPs e outras formas de urbanismo muito presentes na lógica de produção do espaço em tempos de globalização, ou o que podemos também chamar, através de Hardt e Negri, de Império (rede de empresas e Estados-nação que constituem o capitalismo pós-fordista rentista dos últimos 30 anos, desde Margaret Thatcher). Este eixo de investigação incluirá uma revisão bibliográfica englobando o surgimento do neoliberalismo (de maneira geral) ao final dos anos 70 e início dos 80, assim como sua expansão para o território metropolitano. Autores como David Harvey, Neil Smith, Michael Hardt, Antonio Negri e Maurizio Lazzarato, serão de extrema importância na constituição de um arcabouço teórico que denominamos Urbanismo Neoliberal e a produção social e ontológica de espaço em tempos de capitalismo imaterial (ou pós-fordista). Esta investigação de maneira ampliada será de extrema importância para os processos de copesquisa cartográfica que já vêm sendo realizadas pela autora desta proposta para estágio em Belo Horizonte, cidade que passa por vários processos de urbanismo neoliberal via ampliação vertiginosa de Parcerias Público-Privadas que no Brasil surgem com grande expressão através do instrumento do Estatuto das Cidades denominado Operação Urbana, que viabiliza projetos que privatizam o espaço público com recursos investidos pelo Estado para que o mercado realize obras, ampliando o potencial construtivo, ampliando obras de infraestrutura e ao mesmo tempo, privatizando grandes porções territoriais com a concessão de gestão por mais de 20 anos em alguns casos. O Indisciplinar vem desenvolvendo uma ampla investigação sobre o tema e monitorando diversos processos de OUCs, principalmente a que pretende ser realizada em 7% do território municipal e que já teve o nome de Operação Urbana Consorciada Nova BH e agora tem o nome Operação Urbana Consorciada Antônio Carlos Leste Oeste. Os modos de copesquisar esta operação incluem além do acompanhamento sistemático das ações da Prefeitura, também artigos científicos, encontros periódicos com o Ministério Público, chamadas para Audiências Públicas e representações (denúncias) de improbidade administrativa e afins, assim como alimenta também um blog de observação de todo o processo (http://oucbh.indisciplinar.com) numa ação tecnopolítica disponibilizando informações importantes para toda a sociedade, incluindo atuação forte nas redes sociais (https://www.facebook.com/pages/OUC-ACLO-_-Nova-Bh/1587393064840548?fref=ts). Também são realizadas pelo grupo de pesquisa diversas parcerias com coletivos de artistas, urbanistas e arquitetos ibero-americanos que atuaram com ações diretas e propostas de intervenção e divulgação e mobilização social dos processos que são pouquíssimo divulgados na imprensa local e nacional (http://oucbh.indisciplinar.com/?page_id=515). Acredita-se que este processo de neoliberalização do urbanismo faz parte de uma lógica global de expansão capitalista que nos últimos anos chegou no Brasil e ainda está em seu estágio inicial. O que justifica fortemente este trabalho, é a importância de se realizar uma pesquisa para aprofundar e qualificar o debate na prática cotidiana envolvendo universidade e movimentos sociais para demonstrar como estes processos de urbanização neoliberal, juntamente com outras políticas neoliberais privatistas, foram destrutivos para a economia da Espanha, assim como para o bem estar social do cidadão e não deve se repetir no Brasil (apesar de que já está em processo acelerado). Também pretende-se mapear territorialmente alguns projetos de Urbanismo Neoliberal rastreados durante esta investigação e este mapa será desenvolvido aos poucos nesta plataforma de crowdmap: https://urbanismobiopolitico.crowdmap.com . Porfim, este Eixo 01 de pesquisa detém um caráter de denúncia que pretende auxiliar na destituição de uma lógica urbanística completamente voltada para ampliar o poder do capitalismo financeiro via a associação de empreiteiras, bancos e Estado;
No Eixo 02 objetiva-se a realização de uma cartografia da Produção Tecnopolítica do Comum Urbano constituída em processos multitudinários por toda a Espanha e que teve parte de sua origem na cidade de Sevilha (para a qual pretende-se morar e realizar este trabalho) com o arquiteto e urbanista Santiago Cirugeda e seu coletivo Recetas Urbanas. Portanto, pretende-se, dentro deste eixo de investigação, realizar uma cartografia contendo uma grande rede de inteligências coletivas de produção de espaços envolvendo processos de produção do comum urbano. Esta cartografia irá abarcar coletivos de arquitetura e urbanismo táticos que utilizem dispositivos táticos: tanto de artesanias construtivas, quanto de tecnopolíticas digitais para constituição de espaços urbanos de uso coletivo baseados na lógica do urbanismo p2p (entre pares). Observa-se que já uma multiplicidade de grupos cidadãos que vêm constituindo um novo modo de fazer cidade através de processos colaborativos, horizontais, autônomos e auto-gestionários, ocupando espaços públicos (do Estado) e os tornando espaços de produção do comum cidadã em toda a Espanha atualmente. Este interesse em processos autônomos de produção espacial já faz parte dos processos de investigação cotidiana na qual a pesquisadora aqui vem se envolvendo nos últimos anos no Brasil e a presença de coletivos ibero-americanos compõem as ações do grupo de pesquisa Indisciplinar, através da realização de diversos seminários e workshops em colaboração com coletivos internacionais de arquitetura, arte e urbanismo como: Todo Por La Praxis, Arquitetura Expandida, Oficina Informal, Laagencia, Lab.Pro.Fab, Nerdbots, Al Borde, Iconoclasistas, PKMN, Paisajes Transversales, Basurama, Mapeando o Comum, Urbano Humano, dentre outros. Estes diversos coletivos de arquitetura anteriormente citados (e que fazem parte já de nossa teia de conexão com a produção do urbanismo biopolítico internacional) vêm contaminando outras gerações e outros coletivos em toda América Latina se multiplicando. Desde muito antes de 2008 (crise econômica na Europa e nos EUA) Santiago Cirugeda, com o seu coletivo Recetas Urbanas, já havia iniciado diversos projetos de intervenção urbana como alternativa aos projetos neoliberais vastamente produzidos por toda a Espanha, e realizando-os em colaboração com outros coletivos por todo o país. Sabe-se que após a crise de 2008, num país onde a arquitetura era tomada como referência internacional, a começar pelos grandes edifícios espetaculares referência para todo o mundo, muitos arquitetos ficaram desempregados e este contingente envolvido com coletivos de produção autônoma junto à sociedade ganharam escala. Neste sentido, é interessante notar que Santigo Cirugeda é considerado um dos percussores desta enorme rede de coletivos que atuam horizontalmente. Neste sentido, além de termos aqui uma boa justificativa para realizar este estágio na Espanha, já que pretende-se rastrear a participação da arquitetura e do urbanismo na crise espanhola, também faz sentido porque é na Espanha, e mais precisamente em Sevilla, que os coletivos de arquitetura e urbanismo insurgentes e multitudinários têm parte de sua origem. Claro que mais tarde com o surgimento do 15M como movimento multitudinário de referência internacional, estes coletivos ganham outro status político. Também é importante frisar que o 15M e toda sua produção tecnopolítica é baliza conceitual, teórica e prática de grande parte desta pesquisa que aposta no avanço da democracia cidadã sobre o Estado-capital neoliberal. Além disto, ainda assistimos ao surgimento do Partido Podemos e do Guanemos, o que demonstra a importância política destes estudos no que diz respeito não somente à crise provocada pelo neoliberalismo mas também no sentido de demonstrar o quão positivo pode ser um processo multitudinário envolvendo diversos atores, inclusive o arquiteto enquanto agenciador de tecnopolíticas que produzam mais dispositivos para a constituição de uma nova democracia. Portanto, este estágio pós-doutoral será realizado em Sevilla, mais especificamente, por três motivos concretos: 1. O primeiro é o fato do supervisor José Perez de Lama ser deleuzeano, negriano (assim como eu) e também coordenar o FabLab da Universidade de Sevilla. Também é arquiteto e faz parte do coletivo Hacktectura que vem atuando biopoliticamente em diversos projetos pela Europa em defesa dos commons urbanos. (http://fablabsevilla.us.es) 2. O segundo motivo é que José Perez de Lama é também parceiro de investigação de Pablo de Soto que hoje é pesquisador do grupo de pesquisa Indisciplinar. Um dos projetos que coordenamos juntos é o Mapping the Commons, através do qual já temos um vasto acervo de experiências envolvendo a produção do comum no Brasil. Realizamos juntos os workshops em São Paulo e Belo Horizonte o que ampliou nossa rede tecnopolítica de produção de uma narrativa que ocupa os mapas com a crescente multiplicidade de produção biopotente multitudinária nas metrópoles contemporâneas: movimentos por moradia e ocupações, cicloativismo, movimento negro, agricultura urbana, movimentos de cultura multitudinária que ocupam as redes e ruas com eventos livres e autogestionados, etc. (http://mappingthecommons.net) 3. O terceiro motivo é que estarei na mesma cidade na qual o coletivo Recetas Urbanas coordenado por Santiago Cirugeda possui sua base e isto será de extrema importância para o desenvolvimento da cartografia da produção tecnopolítica dos commons urbanos. (http://www.recetasurbanas.net/v3/index.php/es/) Justifica-se, portanto, o desenvolvimento desta cartografia junto aos coletivos de produção multitudinária de espaços do comum já que neste momento estamos no Brasil tentando desenvolver novas diretrizes para construção do espaço urbano, que possam ser uma alternativa aos modos verticais de realização de planos pelo Estado-capital. Acredita-se que os modelos de participação em projetos de grande escala no Brasil estão esgotados e que é preciso inventar (a partir de uma prática cotidiana) novas formas de participação que incluam a decisão para que a democracia representativa seja aos poucos deslocada em direção ao que chamamos de democracia real. Para que nossas intervenções contra estes modelos cristalizados não sejam puramente negativas e apontem críticas sem proposições, acreditamos que há um vasto campo de produção de um urbanismo mais democrático, de ação direta comunitária, de decisões assembleárias locais, de construção horizontal de propostas, que podem nos dar grandes pistas de novos modos de produzir o espaço. Além das pesquisas que realizamos em nosso cotidiano em Belo Horizonte (junto a diversos grupos e movimentos sociais), nos últimos anos também temos realizado ou participado de vários eventos abertos junto a grupos e coletivos de toda ibero-américa, o que tem nos auxiliado na constituição de diretrizes de constituição do comum envolvendo novos modos de se fazer cidade. Alguns destes eventos são: 1. Design e Política (maio de 2011): Foi um evento envolvendo seminário e workshop, do qual fui curadora, que reuniu pensadores, artistas e ativistas de diversos países e áreas como: Saskia Sassen (EUA), Christian Ullmann (Brasil), Peter Pàl Pelbart (Brasil), Ana Paolo Araújo (Brasil- Inglaterra), Eduardo de Jesus (Brasil), Nelson Brissac (Brasil), Javier Barilaro (Argentina), Alejandro Araque (Colômbia), Lucas Bambozzi (Brasil), Giselle Beiguelman (Brasil), Antonio Yemail (Brasil), Camillo Martinez e Gabriel Zea (Colômbia) , dentre outros grupos de arte e de pesquisa como Jaca e ASAS. (http://blog.indisciplinar.com/eventos-2011/seminario-internacional-design-e-politica-2011/) Este evento gerou um livro publicado posteriormente (http://blog.indisciplinar.com/pre-lancamento-design-e-politica/). 2. Ativismo Urbano (agosto de 2012): Foi um evento dentro do Cidade Eletronika, do qual fui curadora juntamente com Lucas Bambozzi, que reuniu pesquisadores, arquitetos, ativistas e pensadores também ibero-americanos como Giuseppe Cocco (Brasil), Alejandro Haiek (Venezuela), Antonio Yemail (Colômbia), Todo por la Praxis (Espanha), Arquitectura Expandida (Colômbia), assim como brasileiros Simone Tostes, Samy Lansky, Eduardo Moreira, Simone Cortezão, Juliana Torres, Marcela Brandão, Adriano Mattos, Marcelo Maia, Lucas Bambozzi, para debatermos o tema da política como mote pra pensar/construir a cidade avançando em direção do ativismo e portanto, realizou uma série de workshops de ocupação do centro da cidade junto a grupos e ongs locais (http://blog.indisciplinar.com/eventos-2012/cidade-eletronika-2012/); 3. O direito à cidade, o que temos em comum (janeiro de 2013): Foi um seminário (da qual fui curadora) que discutiu com pensadores e ativistas novas formas de resistir e ocupar a cidade durante 3 dias em Belo Horizonte (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.513556928735808.1073741838.425668724191296&type=3). 4. Cartografias Biopotentes (fevereiro 2014): Consistiu em um conjunto de eventos (seminário + 4 workshops + palestra + lançamento de livro), do qual fui curadora, que pretendeu aglutinar formas de cartografar criticamente a cidade e suas dinâmicas biopolíticas territoriais. Dentro deste evento realizamos o primeiro workshop junto com Pablo de Soto, Mapeando o Comum em BH, que abriu um espaço para a realização de diversas parcerias com os pesquisadores envolvidos neste projeto (incluindo José Perez de Lama, que pretende ser supervisor deste estágio pós-doutoral). Muitos mapeamentos foram realizados coletivamente e neste caso em Belo Horizonte, atuamos especificamente nas áreas atingidas pela Operação Urbana Consorciada Nova BH naquele momento em curso, que propunha modificar radicalmente a estrutura urbana de 7% do território da cidade via PPP. Também realizamos outros workshops como o “Entre Muros” ou o “Cartografia Afetiva _ Vila Dias” (com Ana Ortega do Arquitectura Expandida + Desejaca) e o workshop “Fazer – Trabalhar” (com o pesquisador colombiano Gabriel Zea). (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.589684464456387.1073741841.425668724191296&type=3) 5. Marco Civil e Tecnopolíticas (junho de 2014): Seminário realizado com a presença do pesquisador, ativista e parceiro da nossa rede Tecnopolíticas: territórios urbanos e redes digitais, Javier Toret, pesquisador do 15M, do Instituto IN3 coordenado por Castells e atual articulador político do Guanemos Barcelona. Este evento contou também com a participação de um dos principais atores da construção do Marco Civil da Internet no Brasil, o pesquisador Sérgio Amadeu. (http://blog.indisciplinar.com/776/) 6. Flock Society (dezembro de 2014 ): Participação na Cumbre Internacional do Flok Society com mais de 200 pesquisadores e ativistas de todo o mundo na área de tecnopolítica que aconteceu com intuito de criar uma rodada de trabalhos colaborativos para estabelecer diretrizes para políticas públicas envolvendo o conhecimento livre em todas as áreas produtivas dos ministérios do Equador; Posteriormente houve nossa participação em um seminário organizado pela Casa Civil do governo brasileiro que ocorreu em São Paulo (http://floksociety.org/2014/06/18/2601/) com a expectativa de gerar um grupo de trabalho que pudesse criar um Flok Brasil (ainda em processo); 7. Multitude (junho, julho, agosto de 2014): Evento realizado pelo Sesc Pompéia do qual fiz parte junto da equipe curatorial: Lucas Bambozzi, Andrea Saturnino, Peter Pàl Pelbart, Lúcio Agra, dentre outros. Este evento envolveu exposição e uma série de debates, incluindo a presença de pensadores importantes como Lazzarato e Antônio Negri, importante referência para nossas copesquisas. Neste evento realizei a mediação da mesa na qual Antonio Negri discute o conceito de Multidão (http://www.sescsp.org.br/multitude/); 8. Cartografias do Comum (julho-agosto 2014): Evento resultado da articulação entre o Espaço do Conhecimento UFMG e o grupo de pesquisa Indisciplinar que articulou uma mostra agregando uma série de atividades como debates, oficinas, filmes, seminários e a exposição. Este evento foi totalmente realizado com a participação horizontal de grupos, coletivos e movimentos sociais de Belo Horizonte que pesquisam e atuam na construção do comum. (http://www.espacodoconhecimento.org.br/?p=8813) (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.684955338262632.1073741847.425668724191296&type=3) 9. Multiplicidades (agosto de 2014): Seminário que inaugurou o debate sobre a construção de uma rede entre universidades e movimentos sociais e coletivos culturais já citada anteriormente “Tecnopolíticas: territórios urbanos e redes digitais”. (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.684955938262572.1073741848.425668724191296&type=3) e contou com a presença de diversos pesquisadores do Indisciplinar (Natacha Rena, Marcelo Maia, Alemar Rena, Joviano Mayer, Ana Isabel de Sá, Paula Bruzzi, Simone Tostes, Marcela Silviano, Priscila Musa, João Tonucci, Luciana Bizzoto, Janaína Marx) e com pesquisadores de diversas universidades e coletivos brasileiros e internacionais como Fábio Gouveia (Labic_UFES), Fernanda Bruno, Pablo de Soto, Tatiana Roque (Media Lab _ UFRJ), Clara Luiza Miranda (UFES) e Basurama (Brasil-Espanha). (http://wiki.tecnopoliticas.com/index.php?title=Tecnopol%C3%ADticas:Territórios_Urbanos_e_Redes_Digitais) 10. Escuela de Garaje (Común) (setembro de 2014): Coordenação de um curso de duas semanas em Bogotá, organizado pelo coletivo Laagencia e pelo Idartes/ Ministério da Cultura da Colômbia, para produtores culturais, arquitetos, urbanistas, artistas e ativistas envolvendo leitura de textos, escrita coletiva de artigos (que acabam de ser publicados em um livro) (http://escueladegaraje.com/v_comun/); 11. Noites Brancas (novembro de 2014): Participação em um workshop ofertado pelos Iconoclasistas dentro do evento Noites Brancas. Investigamos a Operação Urbana Consorciada trabalhando territorialmente um mapeamento vasto que resultou também em algumas ações ativistas para dar visibilidade a este processo de urbanização neoliberal no centro da cidade. Todo o processo descrito aqui no blog da dupla Iconoclasistas, http://www.iconoclasistas.net/post/taller-de-mapeo-colectivo-en-la-noite-branca-belo-horizonte-brasil/ , ou no blog do Indisciplinar http://blog.indisciplinar.com/iconoclasistas-em-novabh/ . 12. Tecnopolíticas, democracia e urbanismo tático (fevereiro 2015): Evento envolvendo seminário e workshop que reuniu um grupo de profissionais e pesquisadores interessados na investigação e na a aplicação das tecnologias digitais de comunicação aos processos de produção do espaço urbano. Contou com a participação de diversos atores e grupos da rede “Tecnopolíticas: território urbano e redes digitais” como: Natacha Rena (NPGAU/ EA UFMG), Marcelo Maia (EA UFMG), Paula Bruzzi (NPGAU/ EA UFMG), Fernanda Bruno e Pablo de Soto (MediaLab_Comunicação/UFRJ), Fábio Malini (Comunicação_LABIC_UFES), Coletivo Micrópolis (Arquitetura/UFMG), Ana Isabel de Sá, Paula Bruzzi e Fernanda Mourão (Indisciplinar_Arquitetura/UFMG), Ricardo Fabrino (Democracia Digital_Ciências Políticas/UFMG), Domenico di Siena (Urbano Humano_Itália), Giselle Beiguelman (Design/USP), Tatiana Roque (Matemática/UFRJ), Alemar Rena (Indisciplinar_Letras/UFMG), Monique Sanchez + Maurício Leonard (Arquitetura/UFOP), Ana Clara Mourão (LabGeo_Arquitetura /UFMG), Denise Morado (Praxis_Arquitetura/UFMG). (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.782621678495997.1073741853.425668724191296&type=3)
No Eixo 3: Eixo 03, Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático (hardware e software) para instalação em espaços público próximo às escolas de arquitetura e urbanismo que possam concentrar informações tanto sobre processos destituintes do urbanismo neoliberal quanto sobre processos constituintes envolvendo urbanismo tático e novas políticas do comum. Este trabalho de mobiliário opens source será realizado no FabLab Sevilha, local no qual a pesquisa será inteiramente realizada sob a supervisão de seu coordenador José Perez de Lama. Este eixo de trabalho desta proposta pretende dar continuidade às investigações em processo no grupo de pesquisa Indisciplinar ao elaborar um protótipo tecnopolítico envolvendo artesanias e redes dentro do que chamamos de urbanismo tático, entre pares. Alguns workshops e ações neste sentido já fazem parte do cotidiano de pesquisa deste grupo e a possibilidade de desenvolver este protótipo junto a um dos mais importantes laboratórios do mundo na área é de extrema importância, até mesmo tendo em vista a intenção de inaugurar no Brasil, em Belo Horizonte, um LabFab para a produção tecnopolítica urbana.
3. CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA E TEÓRICO-CONCEITUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DESTE ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL
Capitalismo cognitivo, neoliberalismo e biopolítica na metrópole contemporânea As políticas públicas neoliberais, impostas pelo Estado-capital sobre o território urbano, configuram evidências claras de como a cidade vem se tornando um palco de disputa territorial. Se a fábrica configurava o campo de exploração do trabalho até os anos 70, atualmente o Estado-capital extrai a mais-valia em todo o espaço via empreendimentos rentistas. Em tempos de capitalismo cognitivo, no qual a tendência da produção cotidiana no mercado vem construindo redes de trabalho voltadas para setores criativos e sociais, as biopolíticas implementadas vão consolidando uma dinâmica de produção do espaço complexa e realizando processos de exclusão social em diversos níveis. Compreender estas as novas estratégias de políticas territoriais é fundamental para mapearmos os campos de luta mais importantes em nossos países e em nossas metrópoles. Compreender como estão imbricadas as estratégias de expansão capitalista pelo território utilizando a lógica do planejamento urbano via Parcerias Público Privadas e entender o papel da arquitetura como mola propulsora deste avanço corporativo por todo o espaço urbano, pode nos fornecer um leque de informação para o avanço do debate entorno de novos processos constituintes fundamentais para a consolidação da democracia real e para empoderamento cidadão no contexto da construção coletiva e autônoma das cidades. O que está claramente em disputa, a partir dos movimentos multitudinários detonados desde 1999 em Seatle, que insurgiram na Espanha em 2011 com o 15M e que ganharam força no Brasil a partir de junho de 2013, é, principalmente, o urbano. Urbano aqui entendido como um amplo platô que envolve as ações no espaço-tempo (públicos, privados, comuns) dissolvendo a noção dicotômica cidade x campo, rua x rede, casa x trabalho. Segundo Hardt e Negri, num texto intitulado Metrópoles (Livro: Commonwealth), a metrópole é para a multidão o que a fábrica era para a classe operária industrial, o que poderia nos induzir a pensar nas metrópoles como territórios conectados nos quais as ações biopolíticas e de controle dos corpos e das espécies se dão com maior intensidade. Ao mesmo tempo, poderíamos pensa-las como o lugar no qual a biopolítica das resistências primeiras são também potentes, possibilitando encontros que, apesar de todas as estratégias para evita-los, se dão com maior ênfase em processos constantes de contaminação. A metrópole, para Hardt & Negri,
“poderia ser considerada em primeiro lugar o esqueleto e a espinha dorsal da multidão, ou seja, o entorno urbano que sustenta sua atividade e o entorno social constitui um lugar e um potente repertório de habilidades no terreno dos afetos, das relações sociais, dos costumes, dos desejos, dos conhecimentos e dos circuitos culturais (...) a metrópole é a sede da produção biopolítica porque é o espaço do comum, das pessoas que vivem juntas, compartindo recursos, comunicando, intercambiando bens e ideias.” (HARDT; NEGRI, 2009: p.255-256)
Mas sabemos que, a metrópole é também o lugar, por excelência, da expropriação deste comum produzido no encontro e na criação das novas formas de vida. Cidades brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte são exemplos de cidades globais eleitas para sediar grandes eventos e para sofrer transformações territoriais via projetos urbanísticos neoliberais em grande escala, e têm se tornado, ao mesmo tempo, celeiro de lutas urbanas e de resistências radicais, conformando sujeitos insurgentes multitudinários que vêm se expandindo e contaminando, não somente os grupos políticos oficiais e não oficiais já existentes, mas trazendo pra dentro das lutas artistas, pensadores, professores universitários, grupos organizados e desorganizados das favelas, advogados. Também podemos observar que, em estágio avançado de expropriação do comum, cidades espanholas como Madrid e Barcelona, após longo período de expansão do urbanismo neoliberal e da edificação de inúmeros grandes projetos de infraestrutura, estradas, edifícios culturais, aeroportos, habitação em grande escala, hoje assistem ao abandono de diversos equipamentos públicos construídos como a ponta de parcerias público privadas que iriam reformular grandes áreas urbanas e endividar profundamente o país. Mas é neste estágio avançado do neoliberalismo urbano, que temos também grandes revoltas em massa, ocupas que se expandiram pelas metrópoles e até mesmo organizações sociais que se transformaram em partidos políticos para disputar o poder com o Estado-capital que provocou uma enorme crise econômica, política e social no país. É na metrópole que estes movimentos insurgentes se organizam, seja por novos modelos de representação político-social, seja por novos modos de constituição do espaço público. O 15M auxiliou na organização também de muitos coletivos de arquitetura e urbanismo e potencializou as ações tecnopolíticas em rede destes que atualmente estão envolvidos na construção de outros modos de pensar a cidade, modos multitudinários, mais colaborativos, mais horizontais, mais democráticos. O sistema capitalista global contemporâneo, que conecta indissociadamente Estados e empresas, pode ser também denominado de Império ou neoliberalismo. Diferente do capitalismo fordista, no qual a mais-valia era prioritariamente explorada via a força de trabalho nas fábricas, atualmente se dá via capital em expansão dirigindo a exploração para todo o território metropolitano, dentro e fora das fábricas. Além disto, o tempo do trabalho envolvido na produção do capitalismo industrial referia-se ao tempo da jornada oficial das leis trabalhistas. Atualmente, o tempo de expropriação do capitalismo pós-fordista, imperial, neoliberal, ocupa todo o tempo de nossas vidas. Além de vermos configurar (via Estado-capital) a construção de sujeitos dóceis (próprios da sociedade disciplinar em que o controle incidia – e ainda incide – diretamente sobre os corpos), estamos imersos em práticas de controle mais sutis e flexíveis, uma tomada da subjetividade que nos torna controlados biopoliticamente. Segundo David Harvey,
“o neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos à propriedade privada, livres mercados e livre comércio. O papel do estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a qualidade e a integridade do dinheiro (...) o neoliberalismo se tornou hegemônico como modalidade de discurso e passou a afetar tão amplamente os modos de pensamento que se incorporou às maneiras cotidianas de muitas pessoas interpretarem, viverem e compreenderem o mundo. O processo de neoliberalização, no entanto, envolveu muita destruição criativa, não somente dos antigos poderes e estruturas institucionais (chegando mesmo a abalar as formas tradicionais de soberania do Estado), mas também das divisões do trabalho, das relações sociais, da promoção do bem-estar social, das combinações de tecnologias, dos modos de vida e de pensamento, das atividades reprodutivas, das formas de ligação à terra e dos hábitos do coração.” (HARVEY, 2012, p:12-13)
Para pensarmos o urbanismo e a produção do espaço no sistema neoliberal imperial, é preciso estarmos atentos à tomada do Estado pelo capital, que agora atua de dentro dos processos políticos institucionais e por meio de mecanismos de gestão pública, gerando políticas e instrumentos urbanísticos que fazem parte, muitas vezes, como é o caso do Brasil, do próprio Estatuto da Cidade . Atualmente, um dos exemplos mais claros disto, é o instrumento denominado Operação Urbana Consorciada , uma espécie de Parceria Público Privada que determina as regras do jogo para o uso e a construção do espaço, gerando territórios determinados por manifestações de interesse do próprio mercado, conformando territórios pré-definidos para investimentos e projetos que gerem mais-valia para o Estado através de títulos . Visivelmente uma passagem das formas de exploração da mais-valia que se dava na fábrica em tempos de capitalismo fordista, e agora se dá no território urbano gerando lucro via renda, dentro da lógica do capitalismo financeiro pós-fordista ou rentista. Do ponto de vista urbanístico, estas políticas públicas se dão em diversos níveis e, mesmo quando não há o uso explícito destes instrumentos neoliberalizantes, a lógica das gestões das cidades contemporâneas, tanto no mundo quanto no Brasil, seja nos governos de esquerda, seja nos governos de direita, é a lógica da cidade-empresa, da especulação imobiliária, da gentrificação (enobrecimento e expulsão dos pobres que não conseguem viver mais nas áreas valorizadas), das políticas de revitalização (substituindo vidas pobres por vidas ricas e turismo), das intervenções utilizando equipamentos culturais (museus, bibliotecas, salas de música e afins), do planejamento estratégico que faz surgir novas centralidades urbanas para que o capital se expanda para novos territórios e possa fazer circular recursos dentro do sistema empreiteiras-bancos. Estas lógicas encabeçam o eixo da gentrificação de grandes regiões, principalmente nos centros das cidades que já detêm meios de transporte e serviços abundantes. E, perversamente, em muitos momentos, é utilizando o discurso da arte, da cultura, da melhoria do espaço, do embelezamento e da segurança que o Estado-capital com seu biopoder (poder sobre a vida) avança por toda a cidade expropriando os bens comuns já existentes ou em processo de formação. Segundo Pelbart (2011), o biopoder está ligado com a mudança fundamental na relação entre poder e vida. Na concepção de Foucault, o biopoder se interessa pela vida, pela produção, reprodução, controle e ordenamento de forças. A ele competem duas estratégias principais: a disciplina (que adestra o corpo e dociliza o indivíduo para otimizar suas forças) e a biopolítica (que entende o homem enquanto espécie e tenta gerir sua vida coletivamente). Nesse sentido, a vida passa a ser controlada de maneira integral, a partir da captura pelo poder, do próprio desejo do que dela se quer e se espera, e assim o conceito de biopoder se expande para o conceito de biopolítica. Há uma diluição dos limites entre o que somos e o que nos é imposto, à medida que o poder atinge níveis subjetivos passando a atuar na própria máquina cognitiva que define o que pensamos e queremos. Segundo Pelbart, “nunca o poder chegou tão longe e tão fundo no cerne da subjetividade e da própria vida, como nessa modalidade contemporânea do biopoder” (PELBART, 2003, p:58), que podemos chamar de biopolítica. Portanto, é a partir de um rastreamento da produção neoliberal tanto na arquitetura quanto no urbanismo espanhol, é que pretende-se comprovar a hipótese de que é exatamente com esta lógica biopolítica de constituição de subjetividades, utilizando a estética e a ideia higienista de revitalização e requalificação de espaços “degradados”, assim como da lógica da cidade criativa ou da economia criativa enquanto lógica de produção espacial que insere as cidades num ranking de competitividade por mais turismo e mais negócios, que criou-se uma narrativa de que a arquitetura e as grandes obras de renovação urbana seriam muito importante para o desenvolvimento da economia das cidades e para sua inserção no mapa mundi. Rastrear estes principais processos de urbanização neoliberal desde Barcelona, passando por Bilbao até chegar em múltiplas intervenções por toda Espanha, englobando pequenas cidades até então pouco conhecidas globalmente, e demonstrar como o discurso positivo e de incentivo via propagandas públicas e privadas, publicação exaustiva em revistas como El Croquis, distribuição de prêmios, criação de concursos, envolvidos neste jogo capitalista de expansão, e conectar tudo isto, através de exemplos emblemáticos, com o financiamento destas grandes obras, mostrando o processo de endividamento do Estado como um todo, faz parte deste primeiro eixo de investigação.
O comum como projeto político constituinte da multidão Esse contexto se deve ao fato do poder Imperial abarcar tudo aquilo que representaria o comum numa estratégia biopolítica, ou seja, expropriando as linguagens, símbolos, imagens, enfim, todos os meios compartilhados pelos indivíduos, através dos quais estes tornam-se capazes de se comunicar e de, assim, produzir algo em sociedade. Em tempos de capitalismo cognitivo, criativo e imaterial, a produção do comum baseia-se na colaboração e nos processos criativos e afetivos que incorporam todos os níveis da vida. Todo o tempo é produtivo e o comum que compartilhamos serve de base para a produção futura, numa relação expansiva. Para Hardt e Negri, atualmente essa relação entre a produção, a comunicação e o comum é a chave para entender toda atividade social e econômica própria do capitalismo pós-fordista. (HARDT & NEGRI, 2005, p:256-257) A ampliação desta acepção de biopolítica adotada por Hardt e Negri situam o conceito como algo que acontece plenamente na sociedade de controle, na qual o poder subsume toda a sociedade, suas relações sociais e penetra nas consciências e corpos. Mas a consequência disso é a explosão dos elementos previamente coordenados e mediados na qual as resistências deixam de ser marginais e tornam-se ativas no centro de uma sociedade que se abre em redes (HARDT & NEGRI, 2001, p:44). Isso significa que o poder desterritorializante que subsume toda sociedade ao capital, ao invés de unificar tudo, cria paradoxalmente um meio de pluralidade e singularização não domesticáveis, incontroláveis e incapturáveis. A multidão que se formou, contaminando e hibridando diversas pautas libertárias e progressistas, vem crescendo e tomando novas formas a cada dia. Para Pelbart (2003) ou para Hardt e Negri (2001, 2005, 2009, 2014), esta inversão de sentido do termo foucaultiano “biopolítica”, pode deixar de ser o “poder sobre a vida”, para tornar-se o “poder da vida”, o que poderíamos chamar também de biopolítica da multidão ou, segundo Pelbart (2003), biopotência. Assim, dentro deste sistema global enredado pelo Estado-capital, no qual nos deparamos com o Império, não deveria, de modo algum, segundo os Hardt e Negri (2001), nos deixar saudosos das antigas formas de dominação, porque esta transição para o Império e seus processos de globalização e mundialização conexionista, nos oferece novas possibilidades de redes insurgentes que possibilitam a ampliação das lutas pela libertação. Estas singularidades globais que vão surgindo como resistência ao neoliberalismo vêm tecendo uma nova forma de luta que envolve o que chamam de multidão. Para os pensadores estas forças criadoras da multidão que sustentam o Império são capazes também de constituir “um Contra-império, uma organização política alternativa de fluxos e intercâmbios globais. Os esforços para contestar e subverter o Império, e para construir uma alternativa real, terão lugar no próprio terreno imperial.” (HARDT & NEGRI, 2001, p:12-15) Os autores afirmam que é na metrópole que as novas configurações de resistência se configuram com maior intensidade, e em tempos de produção biopolítica nas quais as forças produtivas que movem o capitalismo pós-fordista, trabalhando principalmente com ideias, afetos e comunicação, não estão mais simplesmente concentradas nas fábricas, mas sim espalhadas por terreno social urbano, ou seja, por toda a metrópole, lugar privilegiado onde as múltiplas forças residem e interagem (HARDT & NEGRI, 2014). Em todo o mundo, mais visivelmente em alguns países que receberam esta grande investida do capitalismo Imperial como Espanha e Grécia, hoje podemos assistir ao estrago social e econômico destas políticas, que nada mais são do que formas de endividamento do Estado e do cidadão . Com a promessa de desenvolvimento, obras de infraestrutura, projetos para megaeventos, construção massiva de habitação, criaram com eficácia um exército humano endividado e quebraram os caixas do Estado. Estes movimentos insurgentes em todo o mundo, como o que ocorreu a partir do Parque Gezi na Turquia contra a construção de um shopping center em lugar de uma praça pública faz surgir uma multidão enfurecida que percebe, de maneira muito evidente, os mecanismos Imperiais do Estado-mercado que vem expropriando direitos garantidos constitucionalmente e transferindo os bens comuns e a produção do comum para o universo do privado. Mas estas insurgências já prefiguravam uma radicalização popular contra este Estado-capital globalizado desde Seattle, e alguns autores como Hardt e Negri, Lazzarato e Harvey, vêm traçando uma cartografia destas dinâmicas do novo capital, e também da rebeldia popular que insurge quando se retira radicalmente o bem estar social defendido como base constitucional de países democráticos. Dentro da própria lógica capitalista de produção coletiva, colaborativa e em rede, que é própria da lógica do capitalismo pós-fordista, surgem também novas formas de colaboração e de fazer-com que recusam os mecanismos representativos da democracia burguesa, mesmo quando sob as siglas de esquerda. Estas resistências assistem à expropriação do comum, desde os bens comuns como a água, as florestas, as praças e parques, ou até mesmo a expropriação da produção do comum em processos informais dos novos modos de vida que não cabem na lógica do Estado-capital. Para esta nova geração conectada em redes múltiplas que se superpõem globalmente, a democracia representativa não corresponde mais à produção dos desejos por mais direitos, ou por uma vida na qual não apenas se participa de processos eleitorais garantindo plenos-poderes aos governantes. A crise da representatividade abarca uma crescente necessidade por participação direta, por democracia real, por participação-decisão como palavras inseparáveis. Portanto, independente da crise do capitalismo global, assistimos ao surgimento de uma nova ontologia do precariado própria da multidão, configurada ao mesmo tempo: a) por um homem endividado (LAZZARATO, 2014 ou HARDT & NEGRI, 2014) complemente imerso no capitalismo financeiro, que tem a sua riqueza criativa expropriada constantemente pelo fluxo econômico; b) por um homem constituído pela lógica do fazer-junto, do fazer-com, criativa e colaborativamente. Para Negri (2010) esta multidão possui também um nome de singularidades não representáveis, que assim como um conceito de classe, é sempre produtiva e está sempre em movimento. A multidão seria então, um ator social ativo, uma multiplicidade que age; seria também o conceito de uma potência que desconfia da representação e em contraste com de povo, porque é uma multiplicidade singular, um universal concreto. O povo constituía um corpo social; a multidão, não, porque ela é a carne da vida e, ao contrário da pura espontaneidade, é como algo organizado num corpo sem órgãos, fora da organização do Aparelho de Estado, ou seja, é um ator ativo de auto-organização, nos introduzindo num mundo completamente novo, dentro de uma revolução que já está acontecendo. A multidão é para o autor, ao mesmo tempo, sujeito e produto da praxis coletiva, assim, como também, cada corpo é multitudinário, ou pode tornar-se uma multidão, formando redes e potencializando contaminações que desejam liberdade na coletividade. A multidão é um monstro híbrido, uma legião, e um projeto que se faz cruzando-se multidão com multidão, misturando corpos operando a mestiçagem e a hibridação, já que o próprio corpo é trabalho vivo e recusa, maquinicamente, a organização constante operada pelo sistema capitalista, portanto, expressão e cooperação, enfim, o poder constituinte da multidão é algo diferente, não é apenas uma exceção política, mas uma exceção histórica, é um produto de uma descontinuidade temporal, radical, metamorfose ontológica, ou seja, a multidão é um nome ontológico de produção de resistências ativas contra sobrevivência parasitárias que constituem a engrenagem da máquina capitalista contemporânea (NEGRI, 2010). A partir desta contextualização, para compreender as relações de força na sociedade contemporânea e realizar um diagnóstico mais próximo da realidade das lutas globais, seria preciso investir em um pensamento-ação, através da filosofia-práxis, que possa nos abrir um campo teórico mais complexo fora do universo da totalidade e que nos permita “entrar no mundo do pluralismo e da singularidade, onde as conjunções e as disjunções das entre as coisas são em cada momento contingentes, específicas e particulares e não remitam à nenhuma essência, substância ou estrutura profunda que as possam fundar” (LAZZARATO, 2006, p.19) Este pensamento-ação nos permite compreender-experimentar a realidade política atual a partir das relações exteriores, fora dos fundamentos, das raízes profundas, dos modelos arborescentes nos quais cada relação só expressa um dos aspectos de alguma coisa. Aqui uma escolha pela teoria pós-estruturalista da multiplicidade, que afasta as relações binárias para compreensão do mundo político, social e econômico, nos lança num campo de pensamento complexo e configurado em múltiplos platôs que se conectam transversalmente. Aponta-se para um pensamento da imanência, através do qual possamos constituir uma ontologia pluralista formada por singularidades que compõem as resistências ao Império neoliberal do capitalismo financeiro, que segundo Negri & Hardt, poderia ser chamado de processos multitudinários, construindo um projeto político de produção do comum. Hardt e Negri em um pequeno e precioso livro denominado Declaração, escrito após a jornada de acampadas que ocorreram por todo o mundo em 2011, dão continuidade ao projeto de mapeamento da multidão e nos ofertam uma sintética e potente análise dos processos revolucionários ressaltando que a estrutura rizomática multitudinária é coletiva e recusa toda forma de ordenação vertical, assim como, o processo biopolítico não se limita à reprodução do capital com uma nova relação social, mas sim, apresenta também o potencial de um processo autônomo que poderia destruir o capital e criar algo completamente novo. (HARDT & NEGRI, 2014)
Urbanismo Biopolítico e produção do comum pelos coletivos contemporâneos Nesses movimentos multitudinários globais, a política é uma ontologia plural: o pluralismo das lutas, que emergem das tradições divergentes e expressam objetivos diferentes, combina-se com a lógica cooperativa e federativa da assembleia para criar um modelo de democracia constituinte, em que essas diferenças são capazes de interagir e se conectar umas com as outras, formando uma composição compartilhada. Esta pluralidade de movimentos contra o capital global, contra a ditadura das finanças, contra os biopoderes que destroem o planeta, surgem em busca do acesso livre e compartilhado do comum e de sua autogestão; discutir, aprender, ensinar, estudar, comunicar-se e participar das ações: essas são algumas das formas de ativismo, constituindo o eixo central da produção de subjetividade numa ontologia plural da política que é colocada em prática por meio do encontro e da composição de subjetividades militantes. É no território metropolitano que estas lutas multitudinárias geram um contorno plural, singular e coletivo de forma espacial, ganhando visibilidade e forçando o Estado a repensar as formas burocráticas e pouco participativas que vêm imperando na construção dos planos via parcerias público-privadas. Ou seja, a produção do comum é o que já acontece no trabalho biopolítico imaterial do cotidiano, a metrópole é onde esta biopotência ativa da multidão ganha intensidade e dimensão, e portanto, a constituição do comum nos processos insurgentes contra o Estado-capital fazem crescer novas formas de vida que vão tornando-se desejo de uma ampla gama de jovens e minorias até então excluídas dos processos democráticos, tanto no Brasil quanto no mundo. Se desde Seattle, mas com muita intensidade, desde a crise econômica de 2008 nos EUA e na Europa, vivemos uma crescente revolta global conectada contra os processos de expropriação do comum em diversos níveis, experimentamos nestes últimos anos na Espanha (via Porta do Sol em 2011), em Istanbul (Parque Gezi) passando pela revolta em Gamonal (2013 na Espanha), pelo movimento Fica Ficus em BH (2013), pelo Ocupe Estelita em Recife (desde 2013), pelo Parque Cocó em Fortaleza (2013) ou pelo Parque Augusta em São Paulo (desde 2013), uma proliferação de lutas assumidas por uma multidão de singularidades e grupos artísticos, de ativistas, de arquitetos e urbanistas, advogados, moradores locais e vizinhos, pop de rua e comerciantes, muitos interessados em recuperar o debate político sobre a cidade e a construção do ambiente que pertence às suas vidas cotidianas. A construção da subjetividade via mecanismos oficiais do poder imperial (grandes mídias) já não convence mais a sociedade com tanta facilidade, e assistimos a uma ampliação dos campos de disputa pela construção do comum, seja nas ruas, seja nas redes. Não se trata somente do território verde dos parques e praças, mas também da exigência de função social para a propriedade e o direito de ir e vir via tarifa zero nos transportes, direito de morar. Pode-se detectar essa demanda nos movimentos pró habitação; a força política dos movimentos pela mobilidade; a força estética e afetiva dos movimentos de ocupas culturais. Sabemos que este é um movimento muito maior que possui relações com o fim do esplendor do capitalismo neoliberal e a chegada de um novo mundo biopotente, mundo no qual o poder sobre a vida é substituído pelo poder da vida. No caso da produção biopolítica na arquitetura e no urbanismo, vemos um movimento dentro do campo produtivo no qual coletivos que buscam a produção do comum urbano, principalmente na Espanha a partir de 2008. Segundo Domenico de Siena do UrbanoHumano (2012), as estruturas de tralho horizontais e abertas são um dos fatores que definem este movimento emergente. Frente ao modelo tradicional baseado em um estúdio formado por um ou mais sócios ou autores e colaboradores, que somente estão organizados entorno a uma estrutura de trabalho piramidal, estamos assistindo à criação de um modelo muito mais heterogêneo, caracterizado por sua horizontalidade. Encontramos nesta rede de coletivos de arquitetura e urbanismo espanhóis (mas também iberoamericanos) um conjunto de características multitudinárias que englobam também tecnopolíticas muito diferentes das envolvidas nos modos de produção da arquitetura espetacular ou neoliberal realizada vastamente na Espanha na década de 90 e na primeira década do Século XXI. Estes coletivos desenvolvem métodos de trabalho e compartilhamento de informação que são super dinâmicos e interativos entre si e também com quem frequenta as redes. Utilizam os blogs e fanpages como ferramentas de comunicação em uma ação tecnopolítica que fura os trâmites das revistas oficiais. Além disto interagem cotidianamente com comunidades nas quais estão realizando projetos coletivamente. Há uma inteligência coletiva e colaborativa que é bastante característica dos processos multitudinários apontados por Hardt e Negri. Há também uma lógica de urbanismo tático, que foge à lógica da produção estratégica capitalista. Criam modelos alternativos de trabalho e democratizam debates que envolvem a produção coletiva do espaço nas metrópoles.
4. OBJETIVOS
Resumindo aqui neste item alguns objetivos que englobam as 03 frentes de atuação desta proposta para estágio pós-doutoral que ao final de todo o processo serão sintetizados em uma publicação em formato de livro para ser lançado no Brasil:
1. Pretende-se no EIXO 01 - Rastrear o urbanismo neoliberal para: • Comprovar a hipótese de que “a arquitetura e o urbanismo neoliberais foram dispositivos importantes para o avanço do neoliberalismo na Espanha através da construção de grandes obras de infraestrutura, de projetos de parcerias público-privadas colaborando com o cenário de endividamento do país dentro da lógica do capitalismo rentista”; • Realizar uma vasta coleta de dados (primários e secundários) que serão sintetizados em diagramas, tabelas, infográficos e georreferenciamento em um mapa territorializado denominado Urbanismo Biopolítico para comprovar a hipótese apresentada anteriormente; • Ampliar a coleta de informações utilizando algumas entrevistas com arquitetos, urbanistas, economistas, geógrafos, dentre outros profissionais que acompanham de perto a crise espanhola; • Produzir textos acadêmicos (baseados em dados econômicos e sociais de institutos oficiais espanhóis) que se tornem artigos teóricos sobre o caso espanhol e para isto a ideia é ampliar a base conceitual proposta aqui inicialmente com o estudo sistemático de autores espanhóis sobre a relação deste processo de urbanização neoliberal e a crise na Espanha; • Dar visibilidade ao processo de investigação e, portanto, pretende-se manter um blog que contenha diversas frentes de atuação relacionadas ao tema principal; • Mapear territorialmente alguns projetos de Urbanismo Neoliberal rastreados durante esta investigação acrescentando informações importantes no mapa da plataforma de crowdmap (https://urbanismobiopolitico.crowdmap.com ) embedado no blog citado anteriormente.
2. Pretende-se no EIXO 02 - Cartografar uma parte representativa da produção tecnopolítica do comum urbano na Espanha, para: • Realizar uma vasta cartografia da produção tecnopolítica do comum urbano constituída a partir de processos multitudinários por toda a Espanha abarcando coletivos de arquitetura e urbanismo táticos que utilizem dispositivos: tanto de artesanias construtivas, quanto de tecnopolíticas digitais para constituição de espaços urbanos de uso coletivo baseados na lógica do urbanismo p2p (entre pares), em processos de prática colaborativa e horizontal, etc.; • Mapear territorialmente estes coletivos e práticas multitudinárias que produzem um urbanismo tático biopotente no mapa da plataforma de crowdmap (https://urbanismobiopolitico.crowdmap.com) embedado no blog da pesquisa. • Realizar uma pesquisa aprofundada da origem destes processos insurgentes de urbanismo tático e biopotente no campo da arquitetura e do urbanismo espanhol, a partir da hipótese de que se eles possuem sua origem na cidade de Sevilha através de ações que envolvem o arquiteto e urbanista Santiago Cirugeda e seu coletivo Recetas Urbanas; • Ampliar o campo de investigação sobre a produção multitudinária no urbanismo e na arquitetura espanhola com intuito de qualificar melhor o debate teórico nos processos de copesquisa cartográfica que já vêm sendo realizadas pelo grupo de pesquisa Indisciplinar atualmente em Belo Horizonte; • Gerar um conjunto de informações organizadas e sintetizadas, ampliando o debate junto à comunidade local, trazendo uma experiência sobre o estágio avançado das tecnopolíticas utilizadas pelas lutas territoriais na Espanha; • Ampliar a discussão teórica sobre o comum incluindo, para além das experiências mapeadas via workshops e pesquisas de ação continuada como o Mapping The Commons, novas experiências que ocorrem em tempo real na Espanha desde o surgimento do 15M (grupo que já participa de nossa rede Tecnopolíticas e vem atuando nas lutas em Belo Horizonte conosco, como é o caso do pesquisador Javier Toret que faz parte do IN3 coordenado por Castells); • Fortalecer a rede já existente “Tecnopolíticas: territórios urbanos e redes digitais” através do contato cotidiano com grupos de investigação similar na Espanha, alguns deles parceiros como o IN3 coordenado por Castells e do qual participa Javier Toret que já é um parceiro de pesquisa do Indisciplinar; • Construir um leque de diretrizes para o desenvolvimento de políticas públicas envolvendo o urbanismo p2p, • Desenvolver um campo teórico a partir de experiências práticas copesquisadas na Espanha e no Brasil com intuito de pensar a arquitetura e o urbanismo para além dos seus limites físicos, entendendo a importância de análise e ação territorial e política via dispositivos tecnopolíticos; • Constituir um campo de exemplos de democracia real via urbanismo e arquitetura que possa servir de referência para construção de novas políticas públicas envolvendo a participação direta e cidadã nos projetos para as cidades;
3. Pretende-se no EIXO 03 - Produzir um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático, para: • Desenvolver a construção de um protótipo tecnopolítico de urbanismo tático (hardware e software) para instalação em espaços públicos que possam concentrar informações tanto sobre processos destituintes do urbanismo neoliberal quanto sobre processos constituintes envolvendo urbanismo tático e novas políticas do comum. Este trabalho será realizado no FabLab Sevilha, local no qual a pesquisa será inteiramente realizada; • Produzir e sistematizar conhecimento e explorar tecnologias que promovam a interseção entre as redes digitais e as dinâmicas espaciais urbanas; • Desenvolver tecnopolíticas para compartilhamento e distribuição de informações do sistema urbano utilizando tecnologias de informação e comunicação (TICs), especialmente a tecnologia móvel, tendo a dimensão fundamental o comum; • Gerar tecnologia social através da produção de hardware e software aberto e do conhecimento livre; conhecimento copyleft; mobiliário open source; • Conhecer e aprofundar melhor o conhecimento envolvendo o FabLab de Sevilha no qual será desenvolvido o dispositivo urbano tecnopolítico. Alguns workshops e ações neste sentido já fazem parte do cotidiano de pesquisa deste grupo e a possibilidade de desenvolver este protótipo junto a um dos mais importantes laboratórios do mundo na área é de extrema importância, até mesmo tendo em vista a intenção de inaugurar no Brasil, em Belo Horizonte, um FabLab para a produção tecnopolítica urbana.
5. METODOLOGIAS
Serão utilizados 3 processos metodológicos diferentes de forma concomitante e que são correspondentes aos 3 eixos de investigação deste estágio pós-doutoral: Eixo 1 - Rastreamento de informação para comprovação de hipótese; Eixo 2 - Cartografia de práticas tecnopolíticas de produção do comum no espaço urbano; Eixo 3 - Desenvolvimento de protótipo artesanal tecnopolítico.
Para o EIXO 1: Rastreando o Urbanismo Neoliberal adotaremos estrategicamente o método científico clássico com base em levantamento de dados oficiais e entrevistas sistemáticas para comprovar a hipótese de que o urbanismo neoliberal fez parte de um dos principais pilares da construção do alto nível de endividamento da Espanha que levou o país à crise que se encontra.
Utilizaremos uma vasta coleta de dados que serão sintetizados em diagramas, tabelas e infográficos. As informações serão coletadas também através de entrevistas e textos científicos (baseados em dados econômicos e sociais de institutos oficiais espanhóis) e auxiliarão na demonstração de que este percurso de avanço do Estado-capital sobre o território teve início nos anos 80 e seu auge nos anos 90, adotando uma lógica de expansão do urbanismo neoliberal através da qual tornou-se possível biopoliticamente construir grandes obras de infraestrutura e ampliar as regiões metropolitanas incluindo cidades no hanking competitivo entre elas, utilizando arquitetura espetacular via projetos de parceria público-privada.
Justifica-se a utilização de um método clássico de investigação alinhado com o modo biopolítico que o Império desenvolve suas narrativa de que “não há alternativa” fora da lógica neoliberal. Parte desta pesquisa será realizada em viagens à Londres onde serão realizadas pesquisas sobre a construção do discursos neoliberal sob o governo Tatcher.
Como base inicial toma-se a discussão histórica, teórica sobre o urbanismo neoliberal em David Harvey e outros autores chaves para o tema e na sequência, pretende-se complementar o texto teórico geral com um rastreamento das campanhas biopolíticas contra o bem-estar-social adotadas na Inglaterra no final dos anos 70 e início dos anos 80. Mas grande parte da pesquisa sobre o neoliberalismo irá se desenrolar na própria Espanha, já que acreditamos na importância para compreensão do avanço do capital rentista no Brasil, demonstrar como o processo de endividamento do Estado e do cidadão está diretamente relacionado ao processo de expansão das ações do Estado-capital sobre o território.
Para o Eixo 02, Cartografando a Produção Tecnopolítica do Comum Urbano adotaremos a copesquisa cartográfica como alternativa ao método científico. Acredita-se que há um processo de investigação próprio da multidão que pretende a constituição do comum como objetivo político, tecnopolítico. Ao invés de tentar comprovar hipóteses com dados e informações oficiais, neste segundo eixo de investigação, aposta-se! Aposta-se na potência crescente dos coletivos insurgentes e na expansão da produção do comum urbano como dispositivo de avanços democráticos e de sustentação para cidadania, envolvendo participação-decisão em ações de intervenção direta que se espalha pelo país, como é o caso das ações do grupo Todo Por La Praxis (http://www.todoporlapraxis.es) do Instituto Do It Yourself (http://www.institutodoityourself.org/) ou em seu projeto VUA (Guía de Vacíos Urbanos Auto gestionados http://www.todoporlapraxis.es/?p=2028) ou também, a partir do projeto de dipositivo para o Centro deportivo Autogestionado na Plaza de la Cebada (http://www.todoporlapraxis.es/?p=850).
Acredita-se ser possível utilizar o método cartográfico através da produção de cartografias emergentes enquanto ação de investigação engajada, ou seja, enquanto copesquisa militante. Segundo Bruno Cava (2012), copesquisa não separa teoria da prática e agencia atravessamentos de múltiplas ordens. Não dissocia sujeito de objeto e se faz de maneira aberta a mudanças de perspectiva, possuindo uma tendência política na qual a produção de conhecimento e o ativismo se sobrepõem. Pretende-se, com este método (ou anti-método), investigar a composição política dos sujeitos e seus modos de auto-organização, analisando, assim, tanto a produção do espaço quanto a libertação do tempo, incorporando o que se movimenta e o que se expande pelas novas formas de vida.
É interessante observar que a origem da proposta de utilização da cartografia enquanto método de copesquisa, passa pelo conceito de cartografia em Deleuze e Guattari (1995) que é um dos princípios do conceito de rizoma, em oposição à decalcomania. Nos processos cartográficos predominam insurgências em planos de imanência, potências em fluxo que se encontram, conectando mundos e modos de vida. Entende-se aqui a cartografia não somente como método da geografia clássica territorial, mas como tática micropolítica cotidiana composta pela ação política; um fazer insurgente, dinâmico, sempre processual e criativo. O rizoma é o processo de conhecimento da realidade sob forma não arborescente ⎯ busca das raízes profundas que fundamentam os fatos. O rizoma, ao contrário da árvore, dá-se desordenadamente, faz-se num crescimento horizontal e na superfície, proporcionando uma entrada na realidade sem portas preestabelecidas. O rizoma não admite normas regulares e desenvolve-se de nó a nó, de tema a tema, de conceito a conceito, aleatoriamente. Traçar um percurso rizomático seria estar sempre entre e, assim, destituir o fundamento, a ontologia, anular o começo e o fim, desenvolver pensamentos como ervas na superfície, livres, adquirindo velocidade, conformando espaços lisos, não arborescentes. Acredita-se, portanto, que o método cartográfico, no sentido deleuzeano do termo, possa contribuir para a configuração de processos constituintes, nos quais possamos vislumbrar maneiras de mapear, de registrar e de criar novas realidades, de forma colaborativa.
Unindo o método da copesquisa com o método cartográfico, pretende-se realizar uma copesquisa cartográfica fazendo aflorar as diferenças, os antagonismos, as singularidades, os híbridos, as complexidades e o que escapa ao modo capitalista de subjetivação e de produção espacial.
É possível imaginar também a cartografia para além de ser um método de investigação que envolve uma experiência cotidiana, dissolvendo as relações entre micro e macropolítica, entre sujeito pesquisador e objeto pesquisado, e existindo como um dispositivo que compõe as metodologias e as estratégias como maquinação e agenciamento de ações de copesquisa cartográfica. Dessa maneira, poderíamos compreender que os dispositivos de ativismo cartográfico fazem parte do leque de possibilidades de pesquisa multitudinária já que a multidão, enquanto organização biopotente, é o que pode construir uma resistência positiva, criativa e inovadora, produzindo e sendo produzida pelo desejo do comum (Rena & Berquó: 2014).
Artigos, textos, manifestos e declarações, conceitos e teorias irão surgir ao longo do trabalho e não possuem um tempo exato dentro da pesquisa. Também iremos utilizar os dispositivos que envolvem a produção de mapas territorializados que se desdobram em mobilização de atores envolvidos nas lutas e disputas territoriais, já que parte deles farão parte de workshops com atores envolvidos ao longo do processo. Acredita-se que elaborar um mapa territorializado coletivamente implica sintetizar e confinar situações complexas, em constante movimento, em uma espécie de diagrama.
Portanto, um dos dispositivos deste estágio pós-doutoral é a constituição de uma mapa territorial georreferenciado e colaborativo na plataforma crowdmap denominado “Urbanismo Biopolítico” (https://urbanismobiopolitico.crowdmap.com) ao qual serão agregadas ações tecnopolíticas de constituição de commons urbanos, à principio com foco na produção espanhola advinda de grupos ligados ao 15M, mas de forma geral em toda a Ibero-américa, já que outros pesquisadores estão também envolvidos nesta cartografia dos coletivos que produzem urbanismo tático. É importante destacar que outra pesquisadora do Indisciplinar, Talita Lessa, da qual eu sou co-orientadora, e que faz o mestrado na UNILA - Universidade de Integração Latino Americana-, está iniciando este mapeamento na América Latina, pelo viés das Lutas Territoriais, que também tem sido um eixo de cartografia em nosso grupo de pesquisa (como já citado anteriormente).
Pretende sistematizar este conhecimento em mapas georreferenciados embedados em um blog que possa dar visibilidade para a importância latente destas ações na constituição de novas diretrizes para se pensar o espaço público dentro de uma lógica de produção do comum.
Para o Eixo 3 - Produzindo um Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático, pretende-se adotar uma metodologia experimental de produção de um objeto de design com características de design urbano tecnopolítico enquanto dispositivo de troca de informação ao mesmo tempo referenciando o território físico-espacial com equipamento de permanência e ação ativista. Pretende-se, portanto, desenvolver um protótipo de um equipamento urbano de design que possa auxiliar na ativação de redes de urbanismo tático, entre pares e cidadão. A ideia é colocar em prática em formato de workshop a confecção deste protótipo, que tenha talvez, características também de softwear livre.
Porfim, pretende-se experimentar a produção de um design open source, que possa ser utilizado por todos em espaços públicos, agenciando conexões e potencializando um uso ampliado daquele local, algo que já é imaginado e produzido dentro da lógica do urbanismo neoliberal via propostas de smart cities, só que aqui criado como dispositivo tecnopolítico da multidão, ou seja, um veículo de ativação de espaços comuns urbanos. A ideia do que possa ser realizado de forma mais clara, vai surgir ao longo da cartografia que será realizada sobre este tipo de dispositivo e que vem sendo gerado por diversos grupos e coletivos na Espanha como é o caso do “Mobiliário Open Source” desenvolvido pelo Zuloark no MediaLab Prado em 2014 (http://medialab-prado.es/article/tallermobiliarioopensource) .
Como este estágio pós-doutoral pretende ser desenvolvido sob a orientação do coordenador do FabLab da Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad de Sevilla, a delimitação da metodologia fará mais sentido quando iniciado o processo coletivamente na universidade.
6. PLANO DE ATIVIDADES
A . Início dos trabalhos e organização da pesquisa junto ao supervisor no FabLab da Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad de Sevilla; B . EIXO 01. Rastreamento/ pesquisa de base da dados sobre processos de urbanização neoliberal com origem na Inglaterra (em Bibliotecas Públicas, Institutos e Universidades); C . EIXO 01. Rastreamento/ Pesquisa de base da dados sobre processos de urbanização neoliberal na Espanha em Barcelona e Madrid (em Bibliotecas Públicas, Institutos e Universidades) + Entrevistas com arquitetos, urbanistas, economistas e críticos aos processos neoliberais; D . EIXO 02. Processo cartográfico envolvendo um circuito de visitação aos coletivos e projetos que envolvem a produção do comum na Espanha; E . EIXO 03. Produção do Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático; F . Organização dos dados e processo de escrita do livro.
7. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
A. Início dos trabalhos e organização da pesquisa junto ao supervisor no FabLab da Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad de Sevilla B. EIXO 01. Rastreamento/ pesquisa de base da dados sobre processos de urbanização neoliberal com origem na Inglaterra (em Bibliotecas Públicas, Institutos e Universidades) C . EIXO 01. Rastreamento/ Pesquisa de base da dados sobre processos de urbanização neoliberal na Espanha em Barcelona e Madrid (em Bibliotecas Públicas, Institutos e Universidades) + Entrevistas com arquitetos, urbanistas, economistas e críticos aos processos neoliberais D . EIXO 02. Processo cartográfico envolvendo um circuito de visitação aos coletivos e projetos que envolvem a produção do comum na Espanha. E . EIXO 03. Produção do Protótipo Tecnopolítico de Urbanismo Tático F . Organização dos dados e processo de escrita do livro
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